sexta-feira, 17 de abril de 2009

Hora da mudança

A relação entre as cidades e os que as habitam não é coisa que se explique de forma simples e muitas vezes nem se explica.

Há quem viva desde sempre num sítio e não sinta qualquer empatia com as gentes, com o património construído, com a luz, com os silêncios e com os burburinhos que são o pulsar da vida.

Há quem corra mundo e não encontre um sítio que sinta como seu.

Há quem se encante por uma paisagem e deixe que o tempo transforme em banalidade o que viu como extraordinário.

Há quem use a cidade sem a viver, como um instrumento que consome enquanto lhe é útil e lhe garante o espaço de sobrevivência.

Há quem odeie a cidade onde vive e não consiga olhar para os pormenores que transformam cada espaço em algo de único que, mesmo fotografado mil vezes, é sempre diferente aos olhos de quem vê.

Há os que são de um sítio porque aí nasceram e os que pertencem a um sítio porque o adoptaram como seu habitat.

Uns e outros, cada um à sua maneira, querem o melhor para o espaço a que sentem pertencer.

Quando percebemos esse espaço a ser maltratado, quando sentimos que perde identidade, que entristece, que fica entregue ao arbítrio de inconfessados interesses, que quem o gere o faz de costas voltadas para os que nele habitam, temos obrigação de nos envolvermos em processos que contrariem esta tendência.

A ninguém que sinta a Cidade como sua é legítimo encolher os ombros e atirar a toalha ao chão, numa atitude de desistência que é incompatível com o amor que se sente pelo espaço que elegemos para trabalhar e viver.

Mas não nos iludamos.

Nenhum de nós de per si é suficiente para mudar este estado de coisas.

As Cidades, as sociedades, transformam-se pelo esforço colectivo, pelo congregar das vontades e entusiasmos dos que entendem, como Augusto Boal, que cidadão não é o que vive em sociedade, mas o que a transforma.

Todos os dias fazemos escolhas, assumimos compromissos, seguimos opções.

Em ano de eleições as escolhas e os compromissos assumem uma importância ainda maior.

É nesta altura que ninguém se deve eximir das suas responsabilidades, dando o imprescindível passo em frente, dando o rosto e a voz por aquilo em que acredita.

Percebo que nestes tempos difíceis seja precisa alguma coragem para o fazer.

As teias de dependência do poder, as pressões, o medo que é instilado de forma cada vez menos disfarçada, tolhem por vezes as vontades de quem quer ser cidadão.

Mas acredito que há uma reserva de dignidade em cada um dos que acreditam na mudança, que os fará desafiar os medos e unirem-se em torno de um projecto transformador que rompa com o marasmo que observamos no dia a dia.

Juntemos as disponibilidades e construamos uma gestão municipal participada.

Uma gestão com e para os cidadãos.

Para os que querem transformar e romper com o imobilismo.

Eduardo Luciano in DIANAFM, 16.04.2009. Retirado do Mais Évora.
 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR