
No geral, a contribuição não é especialmente inovadora e, nos pontos essenciais, corresponde à mistificadora orientação que há muito é detectável no discurso pré-eleitoral do PS: artificial e forçada demarcação do PS em relação ao PSD (como é evidente, Vital Moreira não escreve uma linha sobre o facto de, no Código do Trabalho e na contra-reforma da segurança social, o PS ter ido mais longe para pior que o PSD e também nem sequer fala da feliz convergência que entre ambos se estabeleceu a propósito do Tratado de Lisboa e da recusa de um referendo); uma mal disfarçada dramatização em torno das questões da governabilidade; a apresentação do PCP e do BE como partidos «radicalmente antiliberais, antieconomia de mercado (ena, voltámos ao saudoso eufemismo), além de antieuropeus» e cujo principal objectivo seria, na douta opinião do Prof. de Coimbra exilado em Bruxelas,«derrotar o PS, mesmo à custa da entrega do poder à direita»; e, por fim e em coerência com o resto, a cassete falsa, envenenada e capciosa insistência no apelo ao suposto «voto útil» no PS dos eleitores do PCP e do BE por medo da «vitória da direita».
É sobretudo a este último ponto que quero voltar, muito embora seja para repetir o que, como muitos leitores saberão, já muitas vezes esclareci, com a particularidade de os meus argumnentos nunca sofrerem frontal contestação dos principais propagandistas do fantasioso «voto útil» no PS que, entretanto e sem pruridos de inovação, continuam a repetir dia após dia os mesmos sofismas, as mesmas falácias e as mesmas falsificações.
Não vá julgar-se que eu sou um maluquinho da aritmética e com um pensamentio político limitado aos números, esclareço que obviamente, fossem quais fossem as realidades numéricas, eu sempre sustentaria que voto verdadeiramente útil é o que é útil para quem o dá (e não só para quem o recebe), é o que corresponde às convicções profundas de cada cidadão e cidadã dos cidadãos e é determinado pela sua consciência e vontade, portanto, livre de constrangimentos e papões que alguns interesseiramente se empenham em espalhar.
Dito isto, que é essencial, acontece porém que, boa verdade, toda a linha de apelo ao dito «voto útil» no PS por parte de eleitores que têm votado ou estão agora dispostos a votar na CDU ou no BE afronta desavergonhadamente três grandes evidências numéricas ou aritméticas da maior importância. A saber (peço desculpa pelo tom de escola primária de algumas frases mas há quem, sendo professor universitário, esteja mesmo a pedi-las):


Acresce que se, ainda que um pouco artificialmente, se quiser concluir que, pelo menos em termos núméricos eleitorais, há dois «campos» em presença (o que engloba PSD+CDS e o que englobaria PS+CDU+BE), a mais pura das verdades matemáticas (do ponto de vista político é outra conversa !) é que nenhum tipo de deslocações de voto, seja em que sentido fôr dentro do segundo campo tem qualquer incidência sobre a questão da direita (PSD e CDS) terem ou não terem uma maioria absoluta de deputados (ou seja tenha o PS 30%, a CDU 10% e o BE 9% ou tenha o PS 35%, a CDU 8% e o BE 6% - isso em nada altera que a direita continuasse a somar 51% e tivesse todas as condições para formar governo.).



Mas, saindo dos esclarecimentos de base numéricos e pondo esta minha convicção fora do desafio acima lançado, como será evidente para os leitores, na minha opinião o que politicamente mais determinará o curso dos acontecimentos e soluções pós-eleitorais e que mais pode influenciar a conquista das políticas e soluções de que Portugal precisa é um significativo reforço da CDU, um voto que contribui sempre para a derrota da direita, que castiga justamente a política de direita do PS, premeia um incomparável combate e intervenção ao longo dos últimos quatro anos e meio contra agressões e retrocessos sem conta e que dá acrescida expressão e força institucional à luta por uma nova política constante das suas propostas, programas e compromissos.