Com a peculiar autoridade que lhe advém de ter sido nas eleições para o Parlamento Europeu o capitão de equipa que levou o PS ao segundo pior resultado da sua história, Vital Moreira vem hoje, em artigo no Público, fornecer a «boa táctica» para o PS nas legislativas de 27 de Setembro.
No geral, a contribuição não é especialmente inovadora e, nos pontos essenciais, corresponde à mistificadora orientação que há muito é detectável no discurso pré-eleitoral do PS: artificial e forçada demarcação do PS em relação ao PSD (como é evidente, Vital Moreira não escreve uma linha sobre o facto de, no Código do Trabalho e na contra-reforma da segurança social, o PS ter ido mais longe para pior que o PSD e também nem sequer fala da feliz convergência que entre ambos se estabeleceu a propósito do Tratado de Lisboa e da recusa de um referendo); uma mal disfarçada dramatização em torno das questões da governabilidade; a apresentação do PCP e do BE como partidos «radicalmente antiliberais, antieconomia de mercado (ena, voltámos ao saudoso eufemismo), além de antieuropeus» e cujo principal objectivo seria, na douta opinião do Prof. de Coimbra exilado em Bruxelas,«derrotar o PS, mesmo à custa da entrega do poder à direita»; e, por fim e em coerência com o resto, a cassete falsa, envenenada e capciosa insistência no apelo ao suposto «voto útil» no PS dos eleitores do PCP e do BE por medo da «vitória da direita».
É sobretudo a este último ponto que quero voltar, muito embora seja para repetir o que, como muitos leitores saberão, já muitas vezes esclareci, com a particularidade de os meus argumnentos nunca sofrerem frontal contestação dos principais propagandistas do fantasioso «voto útil» no PS que, entretanto e sem pruridos de inovação, continuam a repetir dia após dia os mesmos sofismas, as mesmas falácias e as mesmas falsificações.
Não vá julgar-se que eu sou um maluquinho da aritmética e com um pensamentio político limitado aos números, esclareço que obviamente, fossem quais fossem as realidades numéricas, eu sempre sustentaria que voto verdadeiramente útil é o que é útil para quem o dá (e não só para quem o recebe), é o que corresponde às convicções profundas de cada cidadão e cidadã dos cidadãos e é determinado pela sua consciência e vontade, portanto, livre de constrangimentos e papões que alguns interesseiramente se empenham em espalhar.
Dito isto, que é essencial, acontece porém que, boa verdade, toda a linha de apelo ao dito «voto útil» no PS por parte de eleitores que têm votado ou estão agora dispostos a votar na CDU ou no BE afronta desavergonhadamente três grandes evidências numéricas ou aritméticas da maior importância. A saber (peço desculpa pelo tom de escola primária de algumas frases mas há quem, sendo professor universitário, esteja mesmo a pedi-las):
Para voltarem a governar o país, PSD e CDS precisam de votos neles e devia meter-se pelos olhos adentro que votos nas forças à esquerda do PS (designadamente na CDU) não são votos no PSD e CDS e sempre serão votos que lhes faltarão para obterem a maioria absoluta de que carecem, do que só pode decorrer a evidência notória que votar CDU (ou BE) em nada favorece um regresso do PSD-CDS ao governo.
No geral, a contribuição não é especialmente inovadora e, nos pontos essenciais, corresponde à mistificadora orientação que há muito é detectável no discurso pré-eleitoral do PS: artificial e forçada demarcação do PS em relação ao PSD (como é evidente, Vital Moreira não escreve uma linha sobre o facto de, no Código do Trabalho e na contra-reforma da segurança social, o PS ter ido mais longe para pior que o PSD e também nem sequer fala da feliz convergência que entre ambos se estabeleceu a propósito do Tratado de Lisboa e da recusa de um referendo); uma mal disfarçada dramatização em torno das questões da governabilidade; a apresentação do PCP e do BE como partidos «radicalmente antiliberais, antieconomia de mercado (ena, voltámos ao saudoso eufemismo), além de antieuropeus» e cujo principal objectivo seria, na douta opinião do Prof. de Coimbra exilado em Bruxelas,«derrotar o PS, mesmo à custa da entrega do poder à direita»; e, por fim e em coerência com o resto, a cassete falsa, envenenada e capciosa insistência no apelo ao suposto «voto útil» no PS dos eleitores do PCP e do BE por medo da «vitória da direita».
É sobretudo a este último ponto que quero voltar, muito embora seja para repetir o que, como muitos leitores saberão, já muitas vezes esclareci, com a particularidade de os meus argumnentos nunca sofrerem frontal contestação dos principais propagandistas do fantasioso «voto útil» no PS que, entretanto e sem pruridos de inovação, continuam a repetir dia após dia os mesmos sofismas, as mesmas falácias e as mesmas falsificações.
Não vá julgar-se que eu sou um maluquinho da aritmética e com um pensamentio político limitado aos números, esclareço que obviamente, fossem quais fossem as realidades numéricas, eu sempre sustentaria que voto verdadeiramente útil é o que é útil para quem o dá (e não só para quem o recebe), é o que corresponde às convicções profundas de cada cidadão e cidadã dos cidadãos e é determinado pela sua consciência e vontade, portanto, livre de constrangimentos e papões que alguns interesseiramente se empenham em espalhar.
Dito isto, que é essencial, acontece porém que, boa verdade, toda a linha de apelo ao dito «voto útil» no PS por parte de eleitores que têm votado ou estão agora dispostos a votar na CDU ou no BE afronta desavergonhadamente três grandes evidências numéricas ou aritméticas da maior importância. A saber (peço desculpa pelo tom de escola primária de algumas frases mas há quem, sendo professor universitário, esteja mesmo a pedi-las):
Para voltarem a governar o país, PSD e CDS precisam de votos neles e devia meter-se pelos olhos adentro que votos nas forças à esquerda do PS (designadamente na CDU) não são votos no PSD e CDS e sempre serão votos que lhes faltarão para obterem a maioria absoluta de que carecem, do que só pode decorrer a evidência notória que votar CDU (ou BE) em nada favorece um regresso do PSD-CDS ao governo.
Ao contrário do que tanta gente julga, é uma falsidade de todo o tamanho supor que o que determinará a formação do governo subsequente às eleições é saber qual é o partido mais votado. Imaginemos, por exemplo, que o PSD até fosse o mais votado mas, caso com o CDS não formasse uma maioria absoluta, bastava o PS assim querer ( e contando para tanto com os votos parlamentares do PCP , dos Verdes e do BE) e nunca um governo PSD-CDS veria a luz do dia. Inversamente, imaginemos que o PS era o partido mais votado mas que havia uma maioria absoluta PSD+CDS. Nesse caso, alguém duvida que quem formaria governo não seria o PS mas, mais provavelmente, uma coligação pós-eleitoral PSD- CDS ?.Vital Moreira acaba de afirmar que «para haver um governo de esquerda [??!!!], não basta uma "maioria de esquerda" (ou das esquerdas), sendo necessário que o PS ganhe as eleições» (pressuponho que esteja a querer dizer ser o mais votado). Pura falácia só possível porque ou Vital Moreira pensa que ser o mais votado dá automaticamente direito a formar governo (o que significaria que estaria a desaprender em termos de constitucionalismo) ou porque, tendo em conta o que diz do PCP e do BE, quer um PS mais votado para que, a seguir, se ir entender ou com o CDS (mais provável) ou com o PSD, duas coisas perante as quais se arrepelariam todos os eleitores de esquerda que, incautamente, tivessem ido atrás da flauta do «voto útil» no PS.
Acresce que se, ainda que um pouco artificialmente, se quiser concluir que, pelo menos em termos núméricos eleitorais, há dois «campos» em presença (o que engloba PSD+CDS e o que englobaria PS+CDU+BE), a mais pura das verdades matemáticas (do ponto de vista político é outra conversa !) é que nenhum tipo de deslocações de voto, seja em que sentido fôr dentro do segundo campo tem qualquer incidência sobre a questão da direita (PSD e CDS) terem ou não terem uma maioria absoluta de deputados (ou seja tenha o PS 30%, a CDU 10% e o BE 9% ou tenha o PS 35%, a CDU 8% e o BE 6% - isso em nada altera que a direita continuasse a somar 51% e tivesse todas as condições para formar governo.).
Mas, saindo dos esclarecimentos de base numéricos e pondo esta minha convicção fora do desafio acima lançado, como será evidente para os leitores, na minha opinião o que politicamente mais determinará o curso dos acontecimentos e soluções pós-eleitorais e que mais pode influenciar a conquista das políticas e soluções de que Portugal precisa é um significativo reforço da CDU, um voto que contribui sempre para a derrota da direita, que castiga justamente a política de direita do PS, premeia um incomparável combate e intervenção ao longo dos últimos quatro anos e meio contra agressões e retrocessos sem conta e que dá acrescida expressão e força institucional à luta por uma nova política constante das suas propostas, programas e compromissos.