quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nestes casos, são «acidentes» da história



Aqui, no Público de ontem, podia ler-se esta aterradora e chocante notícia:

O primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, pediu ontem desculpas ao milhão e meio de "australianos esquecidos" - as crianças que foram vítimas ao longo de várias décadas de maus tratos e abusos em instituições públicas do país, muitas delas enviadas do Reino Unido para a Austrália e em muitos desses casos sem o conhecimento dos pais.
"[Sentimo-nos] desolados por esta tragédia, esta tragédia absoluta, de infâncias perdidas", afirmou Rudd perante os cerca de mil de sobreviventes deste drama humano que se apresentaram no Parlamento - cumprindo a recomendação feita pelo Senado em 2004, instando o Governo da Austrália a assumir "arrependimento"; (...)Estamos todos juntos para vos apresentarmos as desculpas do Estado, para vos dizer que estamos desolados", prosseguiu, num discurso transmitido pela televisão, lamentando ainda que muitas daquelas crianças tenham sido abandonadas "ao frio, à fome e à solidão, sem terem ninguém, absolutamente ninguém, a quem recorrer". Centenas de milhares de crianças foram vítimas de enormes violências, incluindo casos de abuso sexual, nos orfanatos e casas de acolhimento australianas.

(...)Ao longo das três décadas foram enviadas pelo Reino Unido umas 130 mil crianças pobres, entre os três e os 14 anos de idade, para outros países da Commonwealth, sobretudo para a Austrália e Canadá, mas também para a Nova Zelândia, para a África do Sul e para o Zimbabwe, com promessas de que teriam uma vida melhor. Muitas das crianças abrangidas pelo programa estavam já institucionalizadas no Reino Unido, sendo-lhes dito que os pais tinham morrido, ao mesmo tempo que os pais não eram informados de que as crianças estavam a ser enviadas para fora do país.

Em muitos casos foram tornadas trabalhadoras em quintas, onde sofreram todo o tipo de abusos físicos, psicológicos e sexuais.

Entretanto, lido o essencial da notícia e embrulhados o choque e indignação, estou certo que nem um só um defensor do sistema capitalista achará que isto deva ser lançado à conta dele, estou certo que aqui só verão um acidente ou tragédia da história e não crimes como vêem noutras latitudes e que nenhuma corrente política portuguesa, apesar de a estes factos estarem associados governos britânicos conservadores e trabalhistas, admitirá carregar com este peso sobre os ombros porque, como bem sabemos, pesos sobre os ombros e para toda a vida é só para os do costume.

Publicado por Vítor Dias no o tempo das cerejas*
 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR