Sem Água
Crónica de Eduardo Luciano para a Rádio Diana, 7-1-2010.
Ficheiro de som aqui.
Afinal aquilo que foi anunciado como consequência das condições atmosféricas adversas, quase como que um azar com que ninguém contava, era, nem mais nem menos, que o resultado da incapacidade de quem fornece a água para distribuição ao concelho de proceder ao seu tratamento.
Durante quase vinte e quatro horas, os cidadãos deste concelho viram-se privados do acesso generalizado à água da rede pública de abastecimento.
Durante um dia inteirinho Évora foi notícia na comunicação social nacional, mais uma vez pelos piores motivos. As justificações para a ausência do precioso líquido das torneiras foram sendo aventadas à medida que a curiosidade da comunicação social obrigava a explicações convincentes.
Ao fim da manhã afirmava-se que o corte se deveria à existência de elevados níveis de alumínio na água da albufeira da barragem de Monte Novo, tendo esta explicação sido partilhada pela empresa que fornece a água em alta e pelo presidente da câmara municipal.
Algumas pessoas que contactei, mais familiarizadas com estas questões, lembraram-me que não haveria fontes de contaminação da água de albufeira com alumínio capazes das elevadas concentrações que foram anunciadas, pelo que o problema deveria seguramente estar na Estação de Tratamento de Água.
Por esta altura já toda a gente deve saber que a Quercus e uma fonte do ministério do ambiente, citados pela Lusa, afirmaram que o excesso de alumínio detectado na água terá sido causado pelo tratamento que é feito para limpar a turvação.
Afinal aquilo que foi anunciado como consequência das condições atmosféricas adversas, quase como que um azar com que ninguém contava, era, nem mais nem menos, que o resultado da incapacidade de quem fornece a água para distribuição ao concelho de proceder ao seu tratamento.
Em 2004 a maioria PS na Câmara decidiu a entrega do sistema em alta às Águas Centro Alentejo com o pretexto da garantia do fornecimento de água de excelência à população do concelho.
Parece que à primeira dificuldade grave conhecida não houve capacidade de resolver o problema, antes da decisão extrema de deixar milhares de pessoas sem água durante pelo menos 24 horas, escolas fechadas, restaurantes e cafés com actividade reduzida e alguns obrigados a encerrar.
Outro aspecto que sobressaiu desta crise foi a incapacidade de avisar previamente a população da possibilidade de ocorrerem cortes no abastecimento de água.
Sabendo que o problema estaria a ser equacionado há alguns dias, porquê esperar pelo esgotamento dos depósitos para comunicar que não haveria água nas torneiras?
O dia de ontem já passou, a água parece regressar devagarinho às nossas torneiras e agora é preciso atribuir responsabilidades políticas pelos acontecimentos e prevenir o futuro.
É urgente um debate público sobre esta questão, tendo até em conta as palavras pouco tranquilizadoras do presidente da câmara quando alerta para a possibilidade de voltarem a acontecer situações idênticas se as condições atmosféricas se mantiverem.
Chove em praticamente todo o território nacional e não consta que o abastecimento de água tenha sido cortado durante 24 horas em mais nenhum concelho do país.
Incompetência ou fatalidade? Pode ser um bom mote para uma discussão alargada que envolva a população e os órgãos autárquicos, tendo como convidada especial a empresa a quem o município paga a água que ontem não consumimos.
Até para a semana .
Publicado no Évorassim. Ver também todo o desenrolar da história no Mais Évora que a acompanhou a par e passo, num extraordinário trabalho.