Sempre que um povo é flagelado por uma tragédia natural, ele é alvo de acções de solidariedade da parte de praticamente todos os países e instâncias internacionais.
Ainda bem que assim é.
É o que está a acontecer, agora, face à brutal tragédia natural que caiu sobre o povo haitiano - uma tragédia cujas consequências imediatas são terríveis e cujas consequências a prazo se adivinham mais do que sombrias.
Como temos visto, os governos - desde os de Cuba e da Venezuela até aos dos EUA e da Grã-Bretanha, aos da China e do Japão, etc, etc - têm vindo a levar por diante importantes acções de solidariedade, através da disponibilização de meios humanos e materiais com os quais procuram salvar as vidas possíveis, superar os muitos e graves problemas e dramas existentes, atenuar o sofrimento do martirizado povo haitiano.
Ainda bem que assim é.
Pena é que esta disponibilidade solidária não faça parte dos programas de todos esses governos, de forma a que a solidariedade integre o dia a dia das suas políticas, em vez de se manifestar apenas nos momentos das grandes tragédias.
A verdade é que os muitos milhares de haitianos que, agora, morreram e os milhões que ficaram sem casa e sem nada, são vítimas, há muitos anos, de uma outra tragédia, esta social, que é silenciada pelos grandes meios de «informação» e que é fomentada por alguns dos países que, agora, aparecem, nas primeiras páginas dos jornais a exibir ajudas - uma tragédia social que fez do povo do Haiti um dos mais maltratados povos do mundo, com mais de 70% da população vivendo numa situação de pobreza extrema; com uma esperança de vida a rondar os 60 anos; com quase metade da população analfabeta ...
E é também verdade que, se as condições de vida - nomeadamente as habitações - do povo haitiano fossem minimamente humanas, os efeitos do sismo não teriam sido o que foram e estão a ser.
E é igualmente verdade que, como, a propósito disseram Hugo Chávez e Fidel Castro, é no capitalismo explorador e opressor que se encontram as causas dessa tragédia social.
E nestas circunstâncias ninguém o poderia dizer com tanta autoridade: como é sabido, Cuba socialista e a Venezuela bolivariana - países que, face à tragédia actual, foram os primeiros a manifestar a sua solidariedade concreta - são países para os quais a solidariedade faz parte das políticas de todos os dias dos seus governos.
E o Haiti é um exemplo disso.
Basta lembrar o apoio da Venezuela nos últimos anos, designadamente, o envio de 87 milhões de dólares quando dos furacões que, em 2009, flagelaram o país.
E veja-se Cuba que, de 1998 até agora, enviou para o Haiti, gratuitamente, centenas de médicos e outros profissionais de saúde - os quais assistiram centenas de milhares de doentes (a maior parte dos quais nunca tinham visto um médico); procederam a 228 mil operações diversas; assistiram mais de 110 mil partos; melhoraram ou recuperaram a vista a mais de 155 mil pessoas - ao mesmo tempo que 554 jovens haitianos se formavam como médicos, gratuitamente, na Faculdade de Medicina de Santiago de Cuba.
Esta é a solidariedade necessária - que não está à espera de tragédias naturais para se manifestar; que já lá está quando as tragédias ocorrem.
Porque é uma solidariedade de todos os dias.
Fraterna.
De classe.