sexta-feira, 14 de maio de 2010

Coreógrafos profissionais

Parece que é hoje, em encontro entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho, que sairá fumo branco (fórmula muito apropriada pelas razões que se sabe) sobre o acordo entre o Governo e o PSD que, pelo meio de alguns disfarces e retoques acessórios, vai garantir a subida dos principais impostos e dar gás a uma série de medidas de agressão social.

Trata- se uma coreografia minuciosamente estudada e planeada para fazer crer que é o sentido de responsabilidade e de interesse nacional que leva a este acordo e é quase certo que lá teremos as fotos e imagens televisivas dos dois parceiros então com um ar mais sério, grave e compenetrado do que na imagem acima.

Depois do acordo e das palavras mais ou menos medidas e de circunstância de hoje, a coreografia prosseguirá com outras variantes e, folgadas as costas, não será de admirar que o PSD até suba os seus decibéis «oposicionistas».

E, porque é um filme com não sei quantos remakes em Portugal, podemos estar certos que PS e PSD, com eleições à vista, voltarão a encenar sangrentos conflitos políticos e profundas divergências, como se cada um fosse o céu e o outro o inferno em vez de serem, como no essencial têm sido, a grande escolha entre a peste e o veneno. Quanto à coreografia de hoje, mas só quanto a ela, talvez tenhamos de aceitar que somos espectadores. Mas isso é uma coisa, e outra, muito diferente, é tomarem-nos por parvos.
P.S.: Já outros o disseram mas quero acompanhá-los: o anúncio de um «corte» de 5% nos salários de políticos e gestores públicos é uma das mais indignas e cínicas operações de cosmética política de toda a democracia portuguesa.

Porque vem de partidos como o PSD e o PS que sempre que, no passado. alguém falava desse assunto, logo eles bramavam exaltados contra o «populismo», logo sentenciavam que era um afloramento de um suposto sentimento de inveja que os portugueses facilmente assimilavam e logo chegavam mesmo a proclamar que os políticos nacionais estavam era bastante mal pagos.

Assim sendo, como realmente foi, está na cara que este agora anunciado «corte» só tem em vista criar a cortina de fumo e erguer a falácia de que os sacrificios seriam igualmente repartidos.

 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR