Padrinhos não faltam.
Alguns deles poderosos, como o Presidente da República e o representante do grande patronato.
Reticências, só dos nubentes.
Seguramente por conveniência táctica e necessidade de boa forma eleitoral.
Não foi ao acaso que o PR escolheu a data solene do 25 de Abril para lançar o anúncio da necessidade de um novo Bloco Central.
O que fez foi anunciar oficialmente um facto há muito exigido na rua: o da perda da maioria absoluta pelo PS.
Prejudicial para o PS, estimulante para o PSD, afirmação de poder para o PR, esperança para o sempiterno disponível CDS, conveniente nas contas do alto patronato – qual o significado deste Desejado?
O Bloco Central não oferece menos prejuízos do que a maioria absoluta.
Baseia-se num sofisticado princípio legitimador de partidos com vocação de governo, como se de um facto natural se tratasse.
Nega o direito à igualdade dos demais partidos e forças políticas na participação governativa.
E nega ainda a liberdade de voto por manipulação do eleitorado, inculcando-lhe através da deturpação, ocultação ou falseamento da verdade a ideia da inutilidade do voto em forças que comprovadamente não podem alcançar o poder.
Visa também garantir a continuação de uma política, não de centro mas de direita, provavelmente com algumas concessões ao amplo descontentamento popular.
Uma delas tentada desde já: a condenação dos excessos de ganância do ultraliberalismo, acompanhada da oferta de um capitalismo baseado na moralidade do bom patrão.
E outra, em fase experimental: a de exibir um governo preocupado na solução das mais graves questões sociais, mas tratando os direitos sociais não pelo seu perfil jurídico de pleno direito, mas como carências dos mais desfavorecidos a quem é preciso ajudar, com todos os auxílios passíveis de curar males.
O Bloco Central é um projecto político antidemocrático, baseado no reconhecimento de naturais desigualdades, no cerceamento de liberdades e na imposição de um bloqueio a uma verdadeira mudança de desenvolvimento em progresso.