domingo, 14 de fevereiro de 2010

Eles não têm ilusões, só perversões!

«Desde o tempo de Salazar que um grupo de talvez 40 famílias - que controla a maioria da riqueza do País - desempenha um papel decisivo no exercício do poder político.

A sua posição é derivada do seu controlo da economia, propriedade de meios de comunicação social, representação nos corpos legislativos, e a sua estreita ligação com os cargos superiores do Governo.

Consequentemente, a política do governo tem reflectido as posições conservadoras deste grupo nos planos político, económico e social.»

Este texto tem 36 anos.

Pertence a um dos relatórios secretos da CIA sobre Portugal realizados em 1974, e que a Associação 25 de Abril tornou público no seu site.

Assim se constata que o que a CIA escreve nos seus relatórios secretos e o que a CIA manda escrever pelos seus analistas (que ontem como hoje enxameam a Comunicação Social) são duas coisas diferentes.

É a diferença entre informação e propaganda.

Aqui descrito pela própria CIA encontramos o capitalismo monopolista de Estado que o 25 de Abril liquidaria e que a contra-revolução tomaria como tarefa principal reconstruir.

Deixando bem claro o carácter objectivo de um poder económico que determina o poder político e as suas formas.

De um poder económico que em nome dos seus previlégios impôs a mais brutal repressão dos trabalhadores e do povo, impôs uma guerra colonial, impôs a censura e a PIDE.

De um poder económico que é hoje, no essencial, o mesmo cujos interesses comandam o Estado Português.

Assim se reforça a análise que o PCP em 1965 colocara como um dos eixos centrais da revolução democrática e nacional, a de que não há democracia política sem democracia económica.

E se desmascara os que - agindo às ordens ou em estreita colaboração com a CIA durante a revolução portuguesa - sistematicamente mentiram ao povo, quando difundiam as teses de que a liberdade dos exploradores é condição para a liberdade dos explorados.

Hoje, perante a ofensiva brutal dos exploradores, que acumulam lucros e propriedades enquanto tentam forçar os trabalhadores a pagar a crise de um modo de produção falido (o capitalista), é importante lembrarmo-nos do quanto depende a nossa liberdade e o nosso futuro da capacidade de retirar à burguesia os sectores estratégicos da economia.
 
Manuel Gouveia no Avante!
 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR