segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A entrevista do patrão dos Banqueiros

Ricardo Espirito Santo, o Presidente do Banco Espirito Santo, deu no passado fim-de-semana uma importante entrevista ao caderno de economia do Expresso.

São várias as afirmações de Ricardo Espirito Santo que vale a pena reter e que pela sua importância aqui reproduzo:

1. "..O problema fundamental do endividamento português é do Estado e não dos privados. Temos de reduzir o endividamento e a forma de o acelerar é avançar com privatizações e reduzir prejuízos de empresas públicas....O Estado deve acelerar privatizações que tinham a vantagem de reduzir o endividamento e contribuir para o reequilíbrio do nosso défice externo.

2. " ..Qualquer aceleração de eleições nesta altura seria um problema complicadíssimo em termos financeiros.."

3. "..Os bancos pagam mais impostos do que os que vêm na rubrica dos impostos. Na nossa conta de exploração estão inscritos 43,7 milhões mas a carga fiscal total em 2010 inclui outros impostos que totalizaram 132 milhões. Isto é que é uma verdadeira perversidade contabilística. A Banca não anda a fugir aos impostos."

4. "...Muito antes de a venda da Vivo ser concluída foi comunicado que se ela se efectivasse haveria um dividendo antecipado. Isto criou uma responsabilidade perante os accionistas da PT. Se a PT não tivesse cumprido com o que comunicou poderia haver um problema com os accionistas internacionais, que têm cerca de 70% do capital. Os administradores da PT são pagos não para fazer filantropia, mas para obter, dentro do que é legal, a maximização do resultado".

5. "..Tenho um grande respeito por ele (o ministro das Finanças), mas é preciso perceber que o sistema capitalista é amoral, tem de produzir resultados.."

6. " ...a PT deu uma grande contribuição ao país e ao Estado para a equação do défice de 2010, através do fundo de pensões. Julgo que a PT está completamente salvaguardada,,,"

7. " ..Admito que uma participação minoritária da CGD possa ser colocada em Bolsa preferencialmente junto de pequenos investidores, reforçando as receitas das privatizações. Mas defendo a manutenção do controlo pelo Estado".

Como se vê, Ricardo Espirito Santo faz revelações interessantes:

A PT é hoje uma empresa cujo capital é estrangeiro em 70% (estão a ver para onde vai a esmagadora maioria do produto da venda da sua participação na Vivo e a maior fatia das centenas de milhões de euros de lucros que esta empresa obtem todos os anos).

O BES apenas vai pagar 43,7 milhões de euros de IRC, mas Ricardo Espirito Santo diz que paga muito mais do que isso (é curioso mas as famílias também não pagam apenas o IRS, também pagam IVA quando consomem, ISP quando abastecem as suas viaturas, Imposto sobre o consumo do tabaco quando fumam, Imposto sobre veículos quando compram uma viatura, Imposto Único de Circulação pela utilização anual da sua viatura, IMI quando possuem casa, etc,...).

Como ele sabe tão bem fazer contas e espera que os outros o não saibam!

Ricardo Espirito lembra aos mais esquecidos que o sistema capitalista é amoral e tem de produzir resultados e que os administradores das grandes empresas não são pagos para fazer filantropia.

Todos já sabíamos isso, mas é sempre interessante ouvi-lo da boca do patrão dos banqueiros, pois é aqui que ele mostra a sua face e mostra quão importante é para eles o planeamento fiscal e a maximização da utilização das suas filiais no exterior e em especial dos off-shores.

Este mesmo senhor defende que as privatizações devem avançar e que até uma parte da CGD (por enquanto minoritária) deve ser privatizada.

Curiosamente o processo de privatizações iniciou-se sempre com privatizações de partes minoritárias do capital social das empresas, para de seguida atacarem a parte restante. Veja-se o que aconteceu no final dos anos 80 e no início dos anos 90.

Este mesmo senhor pretende ainda convencer-nos, convencido de que uma mentira tanta vez repetida se transforma em verdade, que o grande problema do país não é a dívida privada, mas sim a divida pública (por acaso a dívida privada é muito superior à pública).

Por fim percebe-se das suas palavras que Sócrates pode dormir descansado, ainda não chegou a sua hora, mas para isso é indispensável que prossiga a política que os detentores do poder económico, aqui tão bem representados por Ricardo Espirito Santo lhe ditam e que ela tão bem tem realizado.

Ao que chegámos!

José Alberto Lourenço no FoiceBook
 
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