quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Começou o 9º Fórum Social Mundial

"A abertura do Fórum Social Mundial 2009 será celebrada hoje com uma grande caminhada que espera reunir cerca de 70 mil participantes, dos 92 mil que estão inscritos para os seis dias de atividades. A manifestação vai começar às 15 horas, com um ritual, na praça Pedro Teixeira, escadinha do Cais do Porto, quando os povos africanos, que receberam a última edição do evento, 'entregam' aos indígenas o Fórum. De lá, os manifestantes seguem pela avenida Nazaré até a praça do Operário, em São Brás, onde vão ocorrer apresentações culturais."

Assim começa a notícia que pode ler aqui.

O Fórum Social Mundial de 2009 realiza-se este ano em Belém, Brasil, onde "mais de 100 mil pessoas; organizações, nacionalidades e causas de todo o mundo reafirmam nas ruas de Belém a força da vida enquanto Davos chora a agonia dos bancos".

A Agência Carta Maior, num Especial, irá fazer a cobertura completa do FSM, pelo que aconselho a sua consulta.

Deixo-vos hoje com este texto, por acaso sobre a cobertura da imprensa, de Emir Sader para aguçar o apetite dos interessados por estas coisas.

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios – como não se encontra em lugar algum do globo – estão todos aqui?

Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

O fundamental não tem preço – diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil. A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula – a obsessão dessa mídia.

Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico, não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável – fundamentais no FSM – estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas.

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.
 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR