sábado, 31 de janeiro de 2009

O meu amigo Zé António não anda nada contente...

Um dia destes vi o meu amigo Zé António que anda todo chateado e esteve-me a fazer as queixas.

Aqui há uns tempos atrás herdou um monte que era do pai. É um monte bonito com uma courela junto a uma ribeira.

O monte havia sofrido obras de remodelação no tempo do pai que aproveitou um poço, feito no tempo do avô que também conheci, para canalizar a água, fazer casa de banho, uma cozinha como deve ser, criou um espaço para as máquinas de lavar e deixou torneiras para a rega dos canteiros.

Uma bela obra sem dúvida lembro-me perfeitamente disso porque não foi assim há tantos anos. É que não tinha água canalizada e estava farto de carregar cântaros de água do poço.

Desde logo o meu amigo Zé António recebeu uma bela herança. O monte tinha todas as condições e estava devidamente equipado. Era só habitar e viver lá sem preocupações de maior, tirando ter de pagar a dívida da obra que, vendo bem as coisas, até nem era assim tão grave como ele pensara a princípio.

Mas no verão passado as coisas complicaram-se.

Como nunca se preocupou muito com o poço e nem sequer reparou que a água ia baixando, de repente, ficou aflito. Já só tinha água de vez em quando.

A primeira reacção que teve foi que a tubagem estava rota, que era velha, que a herança tinha sido em entalão que o pai lhe tinha deixado e que em vida deveria ter resolvido o problema definitivamente.

E disso quis convencer a família que não se calava com a falta do precioso líquido.

Aflito como andava lá foi espreitar o poço. Pior ficou. Então o pai não lhe deveria ter afundado o poço para que a água agora não lhe faltasse ou então deveria ter mandado fazer um furo.

Mas o pai que tinha água mais que suficiente e que nunca teve tal problema, óbviamente, não fez nada disso.

É um problema muito chato o do meu amigo Zé António. Essa de culpar o pai é que eu nem quero entender. Já agora deveria culpar também o avô porque, não só mandou fazer um poço pouco fundo como comprou a courela junto a uma ribeira que deixou de ter água ainda no tempo do pai. Só corre um regato quando os aguaceiros são mais intensos.

O meu amigo Zé António está repeso de não se ter desfeito do monte e da courela e de não a ter vendido nem que fosse ao desbarato.

Sempre arranjaria uma casita que tivesse água da rede pública e estaria sossegado, porque assim água não lhe faltaria embora tivesse de a pagar.

Por outra lado não tinha a família à perna.

Lá lhe tive de dizer que estava um bocado enganado e que ainda estava melhor que eu. É que com estas chuvas ele tem o problema mais ou menos resolvido. Eu que tenho água da rede pública nem com as chuvas me tenho safado.

E lá o aconselhei que tinha de fazer obras porque não há soluções para sempre.

De vez em quando há medidas que têm de ser tomadas. Só tinha era de estar atento e prevenir as situações.

E já agora fazia bem em não vender. Porque, se vendesse, iria-se arrepender. É que dentro de poucos anos a água da rede pública ia-lhe custar os olhos da cara.
 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR