segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O parto do monstro

O primeiro-ministro britânico disse esta semana que a actual crise do capitalismo (Brown não fala de capitalismo, evidentemente, isto sou eu já a meter a colherada...) deve ser vista como «as contracções dolorosas para dar à luz uma nova ordem mundial» e que a tarefa dos que hoje se encontram no poder é «nada mais nada menos do que permitir uma transição para uma nova ordem mundial em benefício de uma sociedade mundial em expansão».

Brown não explicou que coisa é essa da «sociedade mundial em expansão», mas a avaliar pelo que se passa no mundo, Grã-Bretanha incluída, não é difícil adivinhar.

O país de sua majestade entrou em recessão na sexta-feira, mas na cartilha de Brown, para além dos discursos, parece não constar mais nada a não ser a contínua transferência de milhões e milhões de libras para o sector financeiro.

Esta receita não é original e nem sequer nos é estranha, pelo que onde se diz Brown poder-se-ia dizer outra coisa, tipo Sarkozy, ou Sócrates, ou Merkel, que vai dar no mesmo. É só trocar as libras por euros e nem se dá pela diferença.

Numa semana negra para os trabalhadores de todo o mundo – e o pior ainda está para vir, repetem os bem informados, não vá a gente esquecer-se – e quando começa finalmente a aflorar na imprensa dita de referência que os «prejuízos» dos que encerram postos de trabalho para «fazer face à crise» são na verdade quebras de lucros, que ainda assim se contam por milhões e milhares de milhões (os lucros arrecadados, note-se), numa semana desta, dizia, é sintomático que um Brown qualquer fale de «dores do parto», quando quem se contorce – com dor, com angústia, com raiva – são os trabalhadores que ficaram ou estão em vias de ficar sem trabalho, ou seja, sem a sua forma de subsistência.

Será caso para dizer que uns parem os monstros e outros sofrem as dores.

Do gabinete de Downing Street saiu ainda a informação de que Brown espera encontrar com os seus homólogos «a melhor maneira de poder trabalhar conjuntamente a nível internacional para reformar o sistema financeiro, a expansão económica e a criação de empregos em novos sectores como o ambiente».

Onde raio é que já ouvimos isto?

Anabela Fino no Avante!
 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR