quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ESQUERDA E «ESQUERDA»

A propósito da ofensiva em curso contra o Serviço Nacional de Saúde (SNS), o Diário Económico ouviu António Arnaut.

Arnaut teve, como é sabido, um papel destacado em todo o processo de construção e aprovação do SNS, facto que o entrevistador recorda, explicando ser essa a razão pela qual ele é considerado o «pai do Serviço Nacional de Saúde».

Por seu lado, Arnaut (diz o jornal) «aceita com orgulho a paternidade» - uma «paternidade» que, talvez por modéstia e para que se saiba que não foi ele sozinho o criador do SNS, «gosta de partilhar».

E «partilha-a» destacando «três grandes apoiantes do SNS»: «Basílio Horta, Rui Pena e Sá Machado».

O destaque é, provavelmente, justo mas certamente injusto.

Justo, talvez, porque é possível que os três nomes citados tenham dado um contributo positivo para a criação do SNS.

Injusto, sem dúvida, porque como António Arnaut muito bem sabe, ninguém apoiou mais todo o processo de construção e aprovação do SNS do que o Grupo Parlamentar do PCP.

Esquecer isso, revela, no mínimo, uma clamorosa falta de memória.
E fiquemo-nos por aqui...

Quanto à defesa do SNS face à ofensiva actual visando liquidá-lo, se Arnaut quiser olhar para a realidade facilmente constatará que, também aí, o PCP está na primeira fila da luta - uma luta que se trava contra os que querem liquidar o SNS na Constituição (caso do PSD com o seu projecto de revisão constitucional) e, simultaneamente, contra os que o vão destruindo com a aplicação de medidas devastadoras (caso do Governo PS/Sócrates, com os encerramentos de centros de saúde, urgências, maternidades, etc, etc).

Aliás, e como Arnaut não ignora, o PCP é o único partido que dá garantias de travar essa luta até ao fim, já que do PSD e do CDS sabe-se o que há que esperar e do PS... bem, do PS só há que esperar aquilo que a sua prática ao longo dos últimos 34 anos tem mostrado... e que Arnaut tão bem define ao dizer: «Com o PS na oposição o SNS estará melhor defendido. Porque o PS na oposição é de esquerda».

Ficamos assim a saber, pela boca do destacado militante António Arnaut, que o seu partido, o PS, só é de «esquerda» quando é necessário fazer o papel de «oposição»... de forma a obter votos de esquerda que lhe permitam ir para o governo desempenhar o seu verdadeiro papel de protagonista principal da política de direita.

Pergunto: e Arnaut? É de esquerda? Ou é de «esquerda»?...

 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR