Quem está a viver momentos de dramática aflição e de pungente angústia com as medidas do PEC3 - especialmente no que respeita aos cortes nos salários - é o deputado Ricardo Gonçalves, do PS...
Não que esteja em desacordo com as ditas medidas.
Pelo contrário: acha-as todas inevitáveis; acha até que já deviam ter sido tomadas há mais tempo; e acha, ainda, que é necessário que sejam muito bem explicadas ao povo.
A questão é que com o anunciado corte nos salários, ele, Ricardo Gonçalves, deputado do PS, «quase fica sem dinheiro para comer» - e isso é intolerável...
E é com a ameaça da fome a toldar-lhe a razão e o raciocínio que explica: «Estamos todos a apertar o cinto, mas os deputados são de longe os mais atingidos na carteira» - especialmente os «deputados da província», como é o seu caso, que têm que «pagar viagens, alojamento e comer fora».
E sempre a explicar... explica-se: «Ganho 3 700 euros por mês. E tenho mais 60 euros de ajudas de custo por dia»
E pergunta: «Acha que dá para tudo?»
E responde: «Não dá».
Claro que «não dá»...
O que dava, sei eu: era pôr o senhor Gonçalves a ganhar o mesmo que ganha a imensa maioria dos portugueses, ou seja: menos de um décimo do salário do deputado Gonçalves - e com efeitos retroactivos.
Ele bem o merecia - tanto mais que não só está de acordo com as medidas tomadas, como acha que vieram tarde....