domingo, 17 de outubro de 2010

Para repetição, repetição e meia: Teixeira dos Santos, os chacais e os bifes

Estava eu a pensar que, sendo domingo, poderia deixar os visitantes desta chafarica apenas entretidos com a Joni Mitchell mas a verdade é que não dá pois agora vivemos um tempo em que deixou de haver sequer um dia de descanso mental porque há sempre alguma coisa de grave ou provocadora que nos interpela e indigna.

É o caso desta frase do Ministro das Finanças hoje levada à primeira página do Público.

Sim, prezados leitores, eu sei muito bem que vou repetir coisas que já disse mas os responsáveis e condutores desta política desgraçada também repetem todos os dias os mesmos sofismas e insistem nas mesmas convenientes amnésias e, assim sendo, que se lixe a exigência palerma das novidades, originalidades e inovações a todo o preço.

E, por isso, aqui quero lembrar três coisas de importância e alcance muito diferentes:

- a primeira é que quem andou décadas a alimentar chacais a bifes não se pode queixar agora que os bichos sejam cruel e desmedidamente vorazes não sendo por acaso que este meu «post» intitulado Passaporte para a impunidade tenha caído, mesmo só na blogosfera e sobretudo nos blogues defensores do governo, em saco completamente roto;

- a segunda é que, ao contrário de tantos e tantas que parecem só agora ter descoberto as maldades e perversidades dos «mercados», eu já há mais de 15 anos escrevi uma crónica motivada por um artigo do jornalista Luís Marques (que crucificava a «irresponsabilidade» do eleito governador brasileiro de Minas Gerais ao declarar que suspendia o pagamento da dívida externa daquele Estado) em que ironizava que, se os «mercados» mandavam e deviam mandar assim tanto, então talvez fosse mais curial extinguir as democracias e as soberanias populares;

- a terceira é que, falando-se de «mercados» e de apertos estatais com financiamentos externos, o que mais fala como um livro aberto é o silêncio de chumbo das legiões de cultores das falsas inevitabilidades perante esse facto emblemático de, com a concordância do governo português, a União Europeia emprestar montes de guita aos bancos com juros de 1% que estes depois emprestam aos Estados a 3, 4, 5 e 6%.

Tudo visto, e em onda de repetições, a fechar fica muito bem aqui outra vez este cartaz francês (rima e é verdade).


 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR