sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sair de onde nunca se devia ter entrado: Um filme que também nos calhou...

Lembram-se quando a água faltou nas vossas torneiras em Janeiro deste ano? Lembram-se das conferências de imprensa e declarações à comunicação social, por parte do presidente da câmara? Claro que sim.

Nessa altura foi feita uma acirrada defesa da empresa Águas do Centro Alentejo e da opção tomada em 2004 de conceder àquela empresa o fornecimento da água em "alta" e recolha de efluentes domésticos.

Foram feitas afirmações e declarações de amor eterno pela suposta excelência do serviço prestado e foram dadas garantias de que a qualidade da água fornecida era coisa intocável.

Foi convocada uma Assembleia Municipal Extraordinária, onde a empresa esmagou todos os argumentos com o peso de gráficos coloridos e de palavras de impaciente condescendência para com as dúvidas que alguns levantaram na altura.

Na passada terça-feira o presidente da câmara propôs, para uma reunião onde sabia não poder estar por razões de saúde, a cessação da concessão e o abandono do Sistema Multimunicipal de abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais do Centro Alentejo.

As razões aduzidas são a frustração da adaptação ao novo regime jurídico e uma alteração anormal das circunstâncias que, em 2004, levaram o Município a conceder o fornecimento de água à Águas do Centro Alentejo.

Conversa de quem pretende sair, sem reconhecer o erro político que foi a entrada naquele sistema multimunicipal.

Mas o mais estranho é que junto das peças que instruíam o agendamento do ponto para a reunião de câmara, encontram-se pareceres dos serviços e uma comunicação interna que colocam a nu a qualidade do serviço prestado pela empresa e descrevem a situação existente com uma afirmação, no mínimo, muito preocupante.

Em várias páginas onde são elencados problemas que foram surgindo ao longo dos últimos seis anos, surgem constatações como esta que me permito ler-vos: "Ao longo destes anos têm sido registados problemas de manganês e trihalometanos nos sistemas sob gestão da AdCA, no entanto esta responsabilidade nunca foi assumida por estes. Exigiu uma intensificação do controlo destes parâmetros e consequentemente mais custos para a entidade em "baixa". Em todos os sistemas das povoações rurais, os valores de cloro residual registados são praticamente inexistentes, colocando em causa a potabilidade da água distribuída".

Dificilmente alguém poderá acreditar que estas situações não terão sido reportadas pelos serviços ao longo dos últimos seis anos e que a gestão PS não tinha conhecimento delas.

Em 2004, a maioria absoluta que geria o município impôs a adesão a um sistema que a oposição considerou que levaria a uma situação de descalabro financeiro, de diminuição da qualidade do serviço e da perda do controlo por parte do município desse recurso essencial para o bem-estar das populações.

Em 2004 falaram mais alto os interesses dos que entendem que a água pode ser objecto de comercialização nas mesmas condições de qualquer outro produto e até à passada terça-feira aquela era a solução ideal.

No dia 7 de Dezembro, ficámos todos a saber, pela pena de quem propôs a entrada no sistema, que afinal o Município de Évora é colocado numa situação financeira desastrosa, ameaçando seriamente a sua sustentabilidade económica e financeira, colocando em risco a prestação de serviços públicos essenciais.

A gravidade das situações de deficiente serviço, relatadas pelos serviços municipais, exige a responsabilização política de quem andou a dizer o contrário.

Até para a semana

 
RESISTIR POR UM MUNDO MELHOR