terça-feira, 29 de junho de 2010

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas (2)


Mais uma peça para este puzzle. Das últimas do quadro que ficará sempre incompleto.

Hoje, mais que o histerizado encontro de futebol entre Portugal e a Espanha, é a véspera de uma assembleia-geral em que a “questão ibérica” é tema dominante e bem revelador do que são estas empresas que, aparentemente, teriam uma função social de prestar serviço público mas que, sobretudo, são “palco” de grandes manobras na área de negócios e especulação financeira.
Amanhã, a Portugal Telecom (PT), que se define como uma operadora global de telecomunicações, líder a nível nacional em todos os sectores em que actua, e se assume como a entidade portuguesa com maior projecção nacional e internacional, vai reunir accionistas para responder a uma ofensiva de um dos seus, da Telefónica espanhola, com contornos e intensidade shakespereanos.

Sr. Zeinal Bava falou (e fala) de “traição” castelhana, o grupo espanhol usou todos os meios que o jogo do monopólio ensina na idade de torcer o pepino, justificados pelo fim do negócio em "vale tudo", Bava dramatizou, aparece como um herói da resistência, não lhe faltam apoios, como ontem surgiu um oportuno da CMVM. Como dizia, num semanário de fim de semana que lhe deu páginas de “tempo de antena”, “há acionistas que gostam da composição do negócio da PT atual. E para eles é um veículo muito atrativo de investimento”, confirmando à exaustão que o que o preocupa “é fazer o melhor para os acionistas”.

É isto, de parte a parte: negócio, atracção de investimento, accionistas, jogos de poder e especulação!

Antes que se pense que tenho alguma posição a tomar entre as partes em litígio (eu?! que nem uma acçãozita tenho, quis, quero, e quererei ter…), mais show-business que real, apenas deixo este registo, com a transcrição desta prosa elucidativa do "relatório de governo da sociedade de 2009"

“As questões relativas ao governo societário têm estado nas últimas duas décadas, crescentemente no centro das atenções e reflexão dos meios empresariais e financeiros internacionais, com especial intensidade em momentos em que a exsurgência de fenómenos negativos de grande dimensão e impacto público tem conduzido a uma redobrada procura de aperfeiçoamento ou substituição de mecanismos existentes, ou até ensaio evolutivo de novas soluções.”

e o acrescento de um dado que venho juntando sobre estas empresas: a dívida bruta da PT ultrapassa 7 mil milhões de euros, e é endividando-se que, empresa a empresa, se alargam as áreas de negócio destas empresas.


Não tenho a intenção de estar a apresentar estudos sobre empresas ligadas à prestação do que era conhecido como serviços públicos. São meras informações, ao alcance de todos (os que tenham acesso à internet…), escollendo alguns dados que relevam o facto de esses ainda chamados “serviços públicos” (ou com designações próximas), ainda que continuando explicitamente a ser considerados nos seus objectos sociais, parecem muito afastados das finalidades reais das empresas muito mais de ordem financeira, enquanto áreas de negócios.

Assim, a Galp, sendo, hoje, (como se define) “o único grupo integrado de produtos petrolíferos e gás natural de Portugal, com actividades que se estendem desde a exploração e produção de petróleo e gás natural, à refinação e distribuição de produtos petrolíferos, à distribuição e venda de gás natural e à geração de energia eléctrica" é (também por sua definição) “a Galp Energia SGPS, S.A. (que) é uma sociedade emitente de acções que se encontram admitidas à negociação no mercado de cotações oficiais da NYSE Euronext. De acordo com as melhores práticas o modelo de governo assegura um conjunto de órgãos sociais com competências deliberativas, executivas e de fiscalização.”
«Descrição dos principais accionistas

As participações qualificadas no capital social da Galp Energia, foram calculadas de acordo com o artigo 16º e 20.º do Código dos Valores Mobiliários. Segundo estes artigo, os accionistas da Galp Energia têm que notificar a Empresa sempre que as suas participações atinjam, ultrapassem ou se reduzam em relação a determinados limites. (...)

Participações Qualificadas

Amorim Energia, B.V. Países Baixos - 276.472.161 acções 33,34%

Caixa Geral de Depósitos Portugal - 8.292.510 acções 1,00%

Eni, S.p.A. Itália - 276.472.161 acções 33,34%

Parpública - Part. Públicas Portugal - 58.079.514 acções 7,00%

Free-float

Restantes accionistas - 209.934.289 acções 25,32%

Os seus segmentos de negócio são, como se pode ler:

Exploração & Produção

Refinação & Distribuição

Gas & Power

As vendas trimestrais da Galp são de cerca de 3 mil milhões de euros e a sua dívida total era, em 31 de Março de 2010, de 2, 449 mil milhões de euros (eu vou somando...).


Depois da água, vejamos o caso da luz. Ou melhor, uns apontamentos sobre a empresa que, a juízo do cidadão comum, existe para o serviço público de lhe fornecer luz.

É mais uma peça do puzzle, é a entidade descendente das CRGE - Companhias Reunidas de Gás e Electricidade - de outros tempos, e que estavam fora do âmbito das actividades capitalistas. O que não quer dizer que não tivessem de cumprir princípios de racionalidade económica como os de usar o menor possível volume/valor de meios para alcançar um pré-determinado volume/valor de produto e/ou, com um pré-determinado volume/valor de meios, conseguir o volume/valor maior possível de um produto.

Pois a EDP, S.A. é uma “sociedade aberta”, tendo como accionistas, segundo a última informação, a Parapública, SGPS, S.A (20%), a Iberdrola – Participações, SGPS, S.A. (7%), a, Caixa Geral dos Depósitos, a Caja de Ahorros de Astúrias e José de Mello, SGPS, S.A. ao nível dos 5% e mais accionistas com nomes de Senfora, SARL, BlackRock Inc., BCP, BES, Sonatrach.

A sua actividade define-se em «unidades de negócio», de produção e distribuição de electricidade e de gás.

Com um volume de negócios anual na ordem dos 12 mil milhões de euros (3,5 mil milhões no 1º trimestre de 2010), confessa que “… sendo um dos maiores emissores de dívida em Portugal, a EDP recorre regularmente ao mercado obrigacionista, beneficiando da qualidade do risco de crédito e da confiança estabelecida com a comunidade de investidores, através de um elevado nível de disclosure e transparência. A EDP procura ainda obter financiamento na moeda local de cada área geográfica (Euros na Península Ibérica, Dólares nos Estados Unidos da América e Reais no Brasil). A estrutura do financiamento baseia-se em obrigações para financiamentos de médio longo prazo, dívida bancária para back-up e papel comercial para gestão de tesouraria e de liquidez.»

Daqui resulta que a sua dívida de curto prazo é, actualmente, de cerca de 2,5 mil milhões de euros e a de médio/longo prazo de 13,6 mil milhões de euros.

Ah!, tem mais de 12.000 trabalhadores ao serviço... e «a missão da empresa assenta em três vectores fundamentais: a criação de valor para o accionista, a orientação para o cliente e a aposta no potencial humano da empresa, tendo em vista ser o mais competitivo e eficiente operador de electricidade e gás da Península Ibérica».

Ora aqui está!

A informação mais actual e importante sobre a EDP:

cotação edp 25.Junho.2010 10:50

€2,476

PSI20

7.163,60

-0,84%

Sérgio Ribeiro no Anónimo Séc. XXI
 
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