sábado, 23 de abril de 2011

A Crise, os portugueses que dizem estar todos a encher os hotéis do Algarve, e os portugueses realmente a passar a Páscoa nos hotéis do Algarve.

A propósito das elevadas taxas de ocupação dos hotéis do Algarve nestas mini-férias da Pascoa, a Comunicação Social que temos aproveita para continuar a promover, e vender, a sua histérica visão da Crise.

Dependendo do estado de espírito do alegado jornalista, as peças oscilam entre o tom de que afinal a Crise não é assim tão má como a pintam, ou de que mesmo com o agravar da Crise, e a Troika instalada no Terreiro do Paço, os portugueses (implicitamente todos) continuam a gastar de forma irresponsável, muito acima das suas possibilidades.

Claro que enquanto debitam estas doutas cogitações à volta das notícias das taxas de ocupação dos hotéis do Algarve, os escribas de serviço ignoram olimpicamente que Portugal é, com a Inglaterra, o País da Europa onde são maiores as desigualdades entre os 10% de menores rendimentos e os os 10% que estão melhor na vida, e que é seguramente entre estes 10%, ou vá lá 20%, a quem a Crise normalmente nunca bate à porta, que se irá encontrar a esmagadora maioria dos menos de 2% dos portugueses que estão a passar as mini-férias da Páscoa nos hotéis do Algarve.

Mas afinal são menos de 2% ?

Admira-se, surpreendido, o leitor que teve a pachorra de me acompanhar até aqui.

Então vejamos, com cerca de 100 000 camas nos hotéis do Algarve, mesmo com todas a dois clientes por cama, daria 200 000 pessoas.

Se descontarmos os estrangeiros, e considerando que portugueses segundo o site da Pordata somos 10.648.855, não chega sequer lá perto dos tais 2%.

Que dos poucos portugueses que estão bem na vida, alguns tenham decidido aproveitar os descontos e promoções dos hotéis do Algarve, que em certos casos chegam aos 30%, será sim mais uma notícia do país desigual em que vivemos, mas o que não vi até agora foi um só jornalista a dizer que esta é mais uma das muitas situações que deixam bem a claro a verdadeira natureza de classe da presente Crise.

Num país onde cresce o desemprego e a precaridade, e se cortam os rendimentos dos que menos têm, uma minoria privilegiada aproveita-se dos descontos e promoções que seguramente não saíram do bolso do capitalista, mas sim do corpo de quem trabalha (cortes no pessoal, redução dos salários reais, e aumento da duração ou intensidade do trabalho) para, a baixos preços, continuar a desfrutar dum estilo de vida cada vez mais distanciado da maioria dos portugueses que, com o seu trabalho lhes proporcionam, para além do mais, tirar proveito da própria Crise.
 
 
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