sábado, 25 de junho de 2011

DIGAM LÁ, Ó TROIKAS, QUEM É AMIGO, QUEM É?

É assim a Igreja:

diz-se, em palavras, a favor dos oprimidos - age, de facto, a favor dos opressores;

promete benesses celestiais aos primeiros - favorece a abençoa as benesses terrenas dos segundos.

Com isto, conta sempre com o apoio de uns e dos outros:

os opressores apoiam-na olhando para os cofres; os oprimidos apoiam-na olhando para o céu...

E uns e outros dão graças a Deus quando o papa, o cardeal, o bispo, o padre (1) pregam as virtudes da caridade - perdão: da CARIDADE! - cuja é, como os opressores sabem e os oprimidos desconhecem, a Madre que alimenta toda esta hipocrisia.

E é assim - alimentando-se da fartura de uns; da miséria de outros; e das graças-a-Deus de todos - que a Igreja se vai governando.

E bem!

Vem isto a propósito das palavras ontem proferidas pelo Cardeal Patriarca de Lisboa na procissão do Corpo de Deus - que, segundo os jornais, juntou em Lisboa 10 mil... ia escrever: oprimidos... mas escrevo: pessoas.

(é que os opressores raras vezes vão a estas coisas: eles sabem, desde tempos imemoriais, que tudo o que ali vai ser dito pelo orador de serviço é em seu benefício - e sabem que os oprimidos comparecerão em massa para aplaudir o orador. Ou seja: confiam absolutamente nos desígnios de Deus e dos seus representantes e representados na Terra...)

Então, foi perante um abundante e receptivo auditório, que D. José Policarpo fez o que tinha a fazer: pediu «ajuda para os que têm fome»;

e lembrou que «a Eucaristia é o sacramento da caridade»;

e asseverou que «a comunhão do Corpo de Deus introduz-nos na experiência da caridade»;

e garantiu que «a evangelização é uma exigência da caridade»...

E em verdade vos digo, irmãos - isto digo eu - que, depois disto, não há fome que resista a tanta caridade...

Portanto... há que esperar por ela - perdão: por ELA!

Portanto... sentai-vos, famélicos de Portugal, e orai!

Portanto... digam lá, ó troikas, quem é amigo, quem é?

(1): ou o presidente Cavaco que também prega caridade que se farta.

Fernando Samuel no Cravo de Abril
 
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