Ontem, na ida a Lisboa, beneficiando do facto, útil e muito agradável, de ter “chófera”, tive a oportunidade de fazer, do Público, comprado numa “estação de serviço”, uma leitura não habitual.
E tive sorte.
Tinha muita e interessante matéria.
No entanto, como sempre, é preciso escolher a informação que nos atiram à cara, aliciantemente.
Seleccionar.
Seleccionar.
Informar-SE.
Não é fácil.
É preciso resistir à curiosidade de saber o que se passa com Vanessa Fernandes, embora o caso humano deva fazer pensar, ou começar por ai e ficar-se pela Pública, ou a fazer os sudokus.
Mas esta edição tem uma “investigação”, na verdade muito interessante, sobre as agências de ratings, e dela foi feito o editorial.
Há mesmo que nela nos determos.
Já por este espaço se tratou de tal tema, até com o suporte de outros jornais e de “autores consagrados”, como num “post” de 30 de Abril [As tais coisas do "rating" (ou de notação)], em que terminava, citando Krugman:
«"Tem de se fazer alguma coisa para acabar com a natureza fundamentalmente corrupta do sistema em que o emitente da dívida é quem paga a respectiva avaliação."
E não PECs!»
Pois nesta edição de ontem do Público parece haver a intenção de se ser exaustivo e “arrumar” o tema.
Dada a característica e limitações deste espaço, apenas pouco mais se aproveita que os títulos, além do da primeira página:
Na página 4 – Serviços de rating custam nove milhões de euros ao Estado e a empresas -Perguntas e respostas
– em que é ouvida muita gente, com destaque para anteriores ministros da economia e das finanças portugueses.
Na página 6 – As agências de rating ampliaram a crise de hoje. E preparam… a crise de amanhã
– em que se faz, desde 2001, o histórico das malfeitorias e “erros” desta criação aparentemente fantasmagórica.
Na página 3 – Editorial – As agências de rating ou a face oculta do século XXI – A crise que vivemos é uma crise da democracia em que os mercados impõem a sua lei aos Governos eleitos.
– em que o editorialista confessa a sua perplexidade por, perante as acusações amplamente fundamentadas sobre os gravíssimos “erros” (diria crimes intencionais) cometidos nas suas notações, de consequências catastróficas, ter sido invocada (e aceite) a 1ª emenda da Constituição dos Estados Unidos, ou seja, a garantia da liberdade de expressão, pois as responsabilidades evidentes nesta explosão de crise não existiriam uma vez que as informações e relatórios, com os resultados conhecidos, não seriam mais que… opiniões.
O que perpassa, em todas as páginas e linhas lidas - e que merecem ser estudadas -, é que tudo isto é uma fatalidade, no caso português um fado!, que as agências de rating, apesar de terem criadores, que são, simultaneamente, emitentes de empréstimos e investidores em empréstimos, nas condições que elas… opinam, são entidades fantasmagóricas, obra e graça de não-se-sabe-quem para desgraça dos trabalhadores, dos povos, e benefícios incalculáveis de cada vez menos tubarões que, comidos os peixes pequenos e médios, entre si medem forças.
Nada a fazer?
Tudo a fazer!
Entre tanta outra acção, aproveitar estas informações e completá-las.
Ir para além delas, ir ao fundo das coisas.
De que fogem.
Dizer, sem ambiguidades, que é o capitalismo – a exploração, a especulação –, a funcionar.
Tal como ele é.
E não pode ser de outra maneira.
É causa espanto, sorriso e (quase) susto ler na página 22 desta mesma edição do mesmo Público, que alguém que se candidata a “lider” do Partdo Socialista, querer privilegiar o capitalismo ético!
Faltava esta do capitalismo ético...