«Trocámos a soberania por um prato de lentilhas» - gritou, um dia destes, na primeira página do Jornal de Notícias, garrafalmente, o presidente do ISEG, João Duque.
Olha este! - pensei - o que é que lhe deu agora para vir a público acusar de traidores à pátria os responsáveis por 35 anos de política de direita?
E o JN - horto do Oliveira tratado pelo hortelão Tavares e sempre tão cirurgicamente selectivo nas vozes que abafa - por que carga de água é que destapa a voz deste Duque?
E outras interrogações semelhantes me assaltaram o pensamento quando, logo no começo da notícia, ouço o Duque a perguntar:
«Portugal ainda tem soberania?».
E a responder: «Já perdeu metade ou mais, perdeu dois terços».
E a lamentar, em patriótico desabafo:
«As pessoas não se importam. Trocam a soberania por um prato de lentilhas».
Nem querendo acreditar no que estava a ler, fiz uma pausa e ponderei: bom, parece que isto é mesmo a sério, pelos vistos o Duque do ISEG e o JN do Oliveira e do seu criado Tavares decidiram, finalmente, dizer verdades, apontar os estragos feitos pela cambada de traidores que já destroçou, contas do Duque, dois terços da independência nacional.
E, não me contendo, gritei entusiasmado:
Ah, grande Duque!; ah, Duque de Trunfo!, assim é que é, diz-lhes aí as verdades que eles não querem ouvir!, põe o teu ducal dedo mesmo no centro da ferida, diz às gentes que nestes últimos 35 anos, Portugal tem estado nas mãos de um rebanho de vendidos, esses soares, cavacos, guterres, barrosos, sócrates & passos-portas que, a troco de uma barrigada de lentilhas, entregaram a independência do País ao grande capital nacional e estrangeiro!, ah, grande Duque de Ouros, canta-lhes aí as verdades todas!
Mas... - nestas coisas de duques, de verdades e de jornais do grande capital há sempre um mas a estragar a festa...
Foi assim que, lendo a notícia até ao fim, fiquei a saber que, afinal - ó sorte malvada: só me saem é duques... - o ouro do Duque é pechisbeque;
que, afinal, para o Duque, a verdade não é a verdade, os traidores não são os traidores, as lentilhas não são as lentilhas...;
que, afinal, para o Duque, os traidores, os miseráveis vendilhões da independência e da soberania, são... sabem quem??!!
Não sabem??!!, pois fiquem sabendo: são, nem mais nem menos do que... os DESEMPREGADOS!!!!,
sim, explica o Duque: os desempregados, esses madraços, esses calões que não querem trabalhar e que, informa o Duque: «preferem viver de um subsídio de 500 euros a trabalhar por 800 euros»!!!!
(informação esta que nos mostra um Duque perfeitamente a par do mercado de trabalho nacional, onde, como toda a gente sabe, empregos disponíveis com salários de 800 euros é o que por aí não falta... - por isso, lá diz o Duque, só não trabalha quem não quer trabalhar e prefere o subsídio de desemprego, que o Duque assegura ser de 500 euros para todos os desempregados...)
Finalmente, num esgar feito de saudades dos bons velhos tempos, o Duque fornece a sua receita para a reconquista dos tais dois terços da independência perdida:
«Disciplina e trabalho» - diz ele, estalando o chicote.
Que fazer com este Duque?